Chegança
Sou Pataxó,
Sou Xavante e Cariri,
lanomâmi, sou Tupi
Guarani, sou Carajá.
Sou Pancaruru,
Carijé, Tupinajé,
Sou Potiguar, sou Caeté,
Ful-niô, Tupinambá.
Eu atraquei num porto muito seguro,
Céu azul, paz e ar puro...
Botei as pemas pro ar.
Logo sonhei que estava no paraiso,
Onde nem era preciso dormir para sonhar.
Mas de repente me acordei com a surpresa:
Uma esquadra portuguesa veio na praia atracar.
Da grande-nau,
Um branco de barba escura,
Vestindo uma armadura me apontou pra me pegar.
E assustado dei um pulo da rede,
Pressenti a fome, a sede,
Eu pensei: “vão me acabar”.
Levantei-me de Borduna já na mão.
Ai, senti no coração,
O Brasil vai começar.
NÓBREGA, é FREIRE, W. CD Pernambuco fado para o mundo, 1956
A letra da canção apresenta um tema recorrente na
história da colonização brasileira, as relações de poder
entre portugueses & povos nativos, e representa uma
crítica à ideia presente no chamado mito
(9 da democracia racial, originado das relações cordiais
estabelecidas entre portugueses e nativos no período
anterior ao início da colonização brasileira.
O da cordialidade brasileira, advinda da forma como
os povos nativos se associaram economicamente
aos portugueses, participando dos negócios
coloniais açucareiros.
@ do brasileiro receptivo, oriundo da facilidade com que
os nativos brasileiros aceitaram as regras impostas pelo
colonizador, o que garantiu o sucesso da colonização.
© da natural miscigenação, resultante da forma como a
metrópole incentivou a união entre colonos, ex-escravas
e nativas para acelerar o povoamento da colônia.
@ doencontro, que identifica a colonização portuguesa
como pacífica em função das relações de troca
estabelecidas nos primeiros contatos entre
portugueses e nativos.