E o certo é que, momentos depois, ao levantar os olhos para a Vanju, que vinha entrando na varanda,
precedida de uma onda forte de perfume que parecia encher a casa, não pôde deixar de erguer um pouco mais as
sobrancelhas, maravilhada com a beleza da rival, toda metida nos panos, pente de tartaruga nos cabelos, sapatos de
bico fino, brincos de ouro, cordão também de ouro, pulseiras tilintantes, anéis, pintura no rosto, sinal azul ao lado da
boca, parecendo mesmo uma mulher de folhinha.
[...]
De longe, mais pelo relance do olhar que pela vista levantada, Lourença pôs-se a espionar a Vanju, e essa
vigilância pertinaz, em vez de lhe dar com o tempo o hábito da nova companhia, só fazia agravar a dor miúda e
machucada que por dentro a consumia. Comparava seu jeito rústico com os modos finos da moça de São Luís, e
dava razão à preferência de Mestre Severino. De pés no chão ou nas sandálias cambadas, vestido corrido e velho,
Os primeiros fios de cabelo branco descendo para os ombros, duas rugas fundas entre a asa do nariz e o canto da
boca, consumida pelos trabalhos da casa e as tribulações da sorte, Lourença reconhecia que nem por sombra podia
competir com a Vanju, que mesmo sem se arrumar era bonita.
MONTELLO, J. Cais da Sagração. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
Nesse fragmento de Cais da Sagração, de Josué Montello, as personagens Vanju e Lourença se veem e passam a
conviver na casa de Mesire Severino, uma como esposa e a outra como empregada e agregada do lugar.
Na descrição das duas personagens pelo narrador, são apresentadas características que as colocam em confronto
entre si. Com base nisso, responda:
a) Sob que aspecto se dá a diferenciação entre as duas personagens? Ilustre sua resposta com duas palavras ou
expressões retiradas do texto e relacionadas a cada uma das personagens.
b) Como a personagem Lourença se percebia em relação à personagem Vanju? Transcreva uma passagem do texto
que evidencie essa percepção da personagem.