Leia o texto sobre a tragédia de Realengo.
É possível que a vida escolar de Wellington, o assassino
de Realengo, tenha sido um suplício. Mas a simples vingança
pelo bullying sofrido não basta para explicar seu ato. Eis um
modelo um pouco mais plausível.
A matança, neste caso, é uma maneira de suprimir os ob-
Jjetos de desejo, cuja existência ameaça o ideal de pureza do
jovem. Para transformar os fracassos amorosos em glória, o
fanatismo religioso é o cúmplice perfeito. Você acha que seu
desejo volta e insiste? Nada disso, é o demônio que continua
trabalhando para sujar sua pureza.
Graças ao fanatismo, em vez de sofrer com a frustração
de meus desejos, oponho-me a eles como se fossem tentações
externas. As meninas me dão um certo frio na barriga? Ne-
nhum problema, preciso apenas evitar sua sedução — quem
sabe, silenciá-las.
Fanático (e sempre perigoso) é aquele que, para reprimir
suas dhividas e seus próprios desejos impuros, sai caçando os
impuros e os infiéis mundo afora.
Há uma lição na história de Realengo — e não é sobre
prevenção psiquiátrica nem sobre segurança nas escolas. É
uma lição sobre os riscos do aparente consolo que é oferecido
pelo fanatismo moral ou religioso. Dito brutalmente, na carta
sinistra de Wellington, eu leio isto: minha fé me autorizou a
matar meninas (e a me matar) para evitar a frustrante infâmia
de pensamentos e atos impuros.
(Contardo Calligaris. Folha de S.Paulo, 14.04.2011. Adaptado.)
De acordo com o autor,
(A) para se evitar tragédias como a ocorrida em Realengo, é
necessário investir em prevenção psiquiátrica e segurança
pública.
(B) o fato ocorrido em Realengo pode ser explicado pela de-
sorientação espiritual de uma pessoa afastada da religião.
(C) a ação praticada pelo atirador pode ser adequadamente
explicada como possessão demoníaca.
(D) o caso de Realengo ilustra o papel do fanatismo religioso
no mascaramento de desejos reprimidos.
(E) ideais de pureza moral são altamente positivos no processo
educativo.