Os trechos abaixo, do Auto da barca do inferno e das Memórias de um sargento de milícias, tratam, de
maneira cômica, dos “pecados” de duas personagens que, cada uma a seu modo, representam uma autoridade.
Leia-os com atenção e responda às questões propostas em seguida.
Frade Embarcai e partiremos: e folgar com ua mulher
Ah, Corpo de Deus consagrado! tomareis um par de remos. se há um frade de se perder,
Pela fé de Jesus Cristo, Frade com tanto salmo rezado?
qu'eu não posso entender isto! Não ficou isso n'avença! Diabo
Eu hei-de ser condenado? Diabo Ora estás bem aviado!
Um padre tão namorado Pois dada está já a sentença! Frade
e tanto dado à virtude! Frade Mas estás bem corregido!
Assi Deus me dê saúde Par Deus! Essa seriela! Diabo
que eu estou maravilhado! Não vai em tal caravela Devoto padre marido,
Diabo minha senhora Florença. haveis de ser cá pingado...
Não façamos mais detença. Como? Por ser namorado
(Gil Vicente, Auto da barca do inferno. São Paulo: Ática, 2006. p. 35-36.)
Os leitores estão já curiosos por saber quem é ela, e têm razão; vamos já satisfazê-los. O major era pecador antigo, e no seu tempo fora
daqueles de quem se diz que não deram o seu quinhão ao vigário: restava-lhe ainda hoje alguma coisa que às vezes lhe recordava o
passado: essa alguma coisa era a Maria-Regalada que morava na Prainha. Maria-Regalada fora no seu tempo uma mocetona de truz,
como vulgarmente se diz: era de um gênio sobremaneira folgazão, vivia em contínua alegria, ria-se de tudo, e de cada vez que se ria fazia-
© por muito tempo e com muito gosto: daí é que vinha o apelido — regalada - que haviam juntado ao seu nome. (Manuel Antonio de
Almeida. Memória de um sargento de milícias. São Paulo: Ática. 2004. Capítulo XLV - “Empenhos”. p. 142.)
a) O que há de comum na caracterização da conduta do Frade, na peça, e do major Vidigal, no romance?
b) Que diferença entre as obras faz com que essas personagens tenham destinos distintos?