[Na Idade Média] A arte das catedrais significa acima de tudo, na Europa, o despertar das cidades. Muitos dos
vitrais são oferecidos pelas associações de trabalhadores, que pretendiam assim consagrar ostensivamente as
primícias de sua jovem prosperidade. Esses doadores não eram camponeses, mas pessoas de ofício. Homens
que, na cidade, nos bairros em constante expansão, trabalhavam a lã, o couro e os metais, que vendiam belos
tecidos, bem como joias, e corriam de feira em feira, em caravana. Esses artesãos, esses negociantes quiseram
que na igreja matriz de sua cidade, nos vãos, transfigurados pela luz de Deus, se representassem os gestos e as
ferramentas do seu mister. Que seu ofício e sua função produtiva fossem assim celebrados nesse monumento
que a todos reunia por ocasião das grandes festas, suficientemente vasto para acolher a população inteira da
cidade. Os burgueses, com efeito, não entravam na catedral apenas para rezar. Era ali que se reuniam suas con-
frarias e toda a comuna para suas assembleias civis. A catedral era a casa do povo. Do povo citadino.
(Georges Duby. A Europa na Idade Média, 1988.)
Identifique o momento da Idade Média em que ocorre o “despertar das cidades”, mencionado no texto, e aponte
três características do papel exercido pelas catedrais na vida cotidiana dos moradores das cidades.