Texto IX
Os povos tupi correspondiam no século xv a um
enorme conjunto populacional étnico-linguístico que
se espalhava por quase toda a costa atlântica sul do
continente americano, desde o atual Ceará, até a
Lagoa dos Patos, situada nos dias de hoje no Rio
Grande do Sul. De acordo com registros de
missionários jesuítas e de exploradores portugueses
dos primeiros anos da colonização portuguesa, os
povos tupi se disseminaram pelo que é hoje a costa
brasileira, numa dinâmica combinada de
crescimento — populacional e fragmentação
sociopolítica. Ao mesmo tempo, uma utopia
ancestral cultivada pelos diversos grupos tupi da
busca de uma “terra sem males”, teria contribuição
para sua expansão territorial. Os tupi chegaram no
início do século XVI à Amazônia, ocupando a Ilha
Tupinambarana como ponto final de sua
peregrinação. No caminho percorrido, os povos tupi
viviam numa atmosfera de guerra constante entre si
e com outros povos não-tupi. Guerras, captura e
canibalização dos inimigos alimentavam a
fragmentação, a dispersão territorial e o
revanchismo.
Em termos simbólicos, o sentido da
antropofagia, resultante do enfrentamento
entre indígenas pouco antes do início da
colonização portuguesa, tem relação co!
O a necessidade de exterminar os inimigos
na totalidade, inclusive pela ingestão física,
de modo a interditar-lhes qualquer forma
de sobrevivência ou resquício material.
O o interesse em assimilar as potencialidades
guerreiras e a bravura dos inimigos, bem
como incorporar seu universo social e
cosmológico adicionado ao grupo do
vencedor.
O a profunda diferença sociocultural entre os
povos tupi, que ao longo da expansão
tendiam a considerar-se como
estrangeiros, habitando regiões contíguas.
O a interferência de navegadores europeus
que alimentavam as dissensões entre os
povos indigenas como meio de conquistá-
los posteriormente.
O a disputa territorial com os povos não-tupi,
que foram praticamente expulsos da costa
e obrigados a adentrar o interior do
continente.