“Para que te servem essas unhas longas? Para te arranhar de morte para arrancar
os teus espinhos mortais, responde o lobo do homem. Para que te serve essa cruel boca
de fome? Para te morder e para soprar a fim de que eu não te doa demais, meu amor, já
que tenho que te doer, eu sou o lobo inevitável, pois a vida me foi dada. Para que te
servem essas mãos que ardem e prendem? Para ficarmos de mãos dadas, pois preciso
tanto, tanto, tanto — uivaram os lobos, e olharam intimidados as próprias garras antes
de se aconchegarem um no outro para amar e dormir.” (trecho do conto “Os desastres
de Sofia”, de Clarice Lispector, em Felicidade clandestina)
Considerando os contos de Felicidade clandestina, de Clarice Lispector, assinale a
alternativa correta.
a) Em “Os desastres de Sofia”, a relação de amor e ódio que se constrói entre professor e
aluna se apresenta metaforizada na figura do lobo. A violência praticada pelo professor por
meio dos falsos elogios à escrita da menina desencadeia a violência final da narrativa.
b) O reaproveitamento intertextual de personagens da literatura infantil é constante nos contos
de Felicidade clandestina, como forma de representar a violência física e mental praticada por
crianças e por adultos.
e) De forma intertextual, a narradora de “Restos de Camaval’” afirma que seu mundo interior,
quando criança, “não era feito só de duendes e príncipes encantados, mas de pessoas com o
seu mistério”, o que é mais um exemplo da densidade da representação da infância pela
autora.
d) Se em “Os desastres de Sofia” a menina é punida pelo professor, em “Cem anos de perdão”
a garota que rouba rosas e pitangas de casas ricas do Recife recebe o perdão do jardineiro e
de um proprietário, o que desmerece a relação que ela tentara estabelecer entre crime e
prazer.
e) O embate entre dois seres profundamente diferentes se observa no conto “Tentação”, em
que se encontram uma
menina e um cachorro. As diferenças entre os seres, postas num primeiro plano na narrativa,
frustram o desejo da
criança de brincar com o cão.