Em Mulheres, raça e classe, Angela Davis afirma que “os papéis das mulheres na procriação, criação da prole e manutenção
da casa possibilitam que os membros de sua família trabalhem — trocando sua força de trabalho por salários — e isso dificilmente
pode ser negado. Mas disso decorre automaticamente que mulheres em geral, independentemente de sua classe e raça, sejam
definidas de modo fundamental por suas funções domésticas”? Disso decorre automaticamente o fato de que a dona de casa é
realmente a trabalhadora secreta no interior do processo de produção capitalista? Se a Revolução Industrial resultou na
separação estrutural entre a economia doméstica e a economia pública, então as tarefas domésticas não podem ser definidas
como um componente integrante da produção capitalista. Elas estão, mais exatamente, relacionadas com a produção no sentido
de uma pré-condição. O empregador não está minimamente preocupado com o modo como a força de trabalho é produzida e
mantida, ele só se preocupa com sua disponibilidade e capacidade de gerar lucro. Em outras palavras, o processo de produção
capitalista pressupõe a existência de um conjunto de trabalhadores e trabalhadoras exploráveis” (DAVIS, Angela. Mulheres,
raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016, p. 242.)
Considerando a passagem acima, o que se pode entender por “trabalhadora secreta no interior do processo de produção
capitalista”?