Vou-me embora p'ra Pasárgada foi o poema de
mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela
primeira vez esse nome Pasárgada quando tinha os
meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] Esse
nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas”
ou “tesouro dos persas”, suscitou na minha imaginação
uma paisagem fabulosa, um país de delícias, como o
de L'invitation au Voyage, de Baudelaire. Mais de vinte
anos depois, quando eu morava só na minha casa da
Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo,
da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha
feito em minha vida por motivo da doença, saltou-me
de súbito do subconsciente este grito estapafúrdio:
“Vou-me embora p'ra Pasárgada!” Senti na redondilha
a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo,
mas fracassei. Alguns anos depois, em idênticas
circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o
mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez
o poema saiu sem esforço como se já estivesse pronto
dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo nele,
em escorço, toda a minha vida; [...] Não sou arquiteto,
como meu pai desejava, não fiz nenhuma casa, mas
reconstruí e “não de uma forma imperfeita neste mundo
de aparências”, uma cidade ilustre, que hoje não é mais
a Pasárgada de Ciro, e sim a “minha” Pasárgada.
BANDEIRA, M. Itinerário de Pasárgada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984.
Os processos de interação comunicativa preveem
a presença ativa de múltiplos elementos da
comunicação, entre os quais se destacam as
funções da linguagem. Nesse fragmento, a função
da linguagem predominante é a
@® emotiva, porque o poeta expõe os sentimentos de
angústia que o levaram à criação poética.
O referencial, porque o texto informa sobre a origem do
nome empregado em um famoso poema de Bandeira.
O metalinguística, porque o poeta tece comentários
sobre a gênese e o processo de escrita de um de
seus poemas.
O poética, porque o texto aborda os elementos estéticos
de um dos poemas mais conhecidos de Bandeira.
O apelativa, porque o poeta tenta convencer os leitores
sobre sua dificuldade de compor um poema.