(repartição)
os rituais estoicos do escritório, entre móveis
sólidos, ásperos e numerosos módulos, e os
funcionários, do rh ou contas a pagar, "boa
tarde”, "volte sempre”, as tantas cobranças que
o patrão reclama, avulsas, ouvindo a secretária
soluçar, aplicada as duplicatas, enquanto
convulsionamosnumeros(necessarioedisca-los
todos), o monstro é um patrão eletrônico, ao
invês de mãos, há troncos telefônicos; inaptos,
se matando aos poucos estes homens que
trabalham: um por um, inú-
teis, caminham na calma
ao recinto sanitário, tomam pilulas diante dos
próprios rostos, projetados no mictório, findam
em suicídios tão limpos quanto burocráticos; as
máquinas permanecemasós,semócionemilaços,
sem tempo, apenas relógios, sem sonho ou
delirio apenasatrapalham,repetindoosmesmos
sinos; apenas trabalham, trabalham: com ódio.
GUARNIERI, A. Suplemento Literário de Minas Gerais, n. 1 338, set.-out. 2011.
Ao correlacionar o trabalho humano ao da máquina, o autor vale-se da disposição visual do
texto para
(A)
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expressar a ideia de desumanização e de perda de identidade.
ironizar a realização de tarefas repetitivas e acríticas.
realçar a falta de sentido de atividades burocráticas.
sinalizar a alienação do funcionário de repartição.
destacar a inutilidade do trabalhador moderno.