“Somos amantes da beleza sem extravagâncias
e amantes da filosofia sem indolência. Usamos a
riqueza mais como uma oportunidade para agir que
como um motivo de vanglória; entre nós não há
vergonha na pobreza, mas a maior vergonha é não
fazer o possível para evitá-la. Ver-se-á em uma
mesma pessoa ao mesmo tempo o interesse em
atividades privadas e públicas, e em outros entre nos
que dão atenção principalmente aos negócios não se
verá falta de discernimento em assuntos políticos,
pois olhamos o homem alheio as atividades públicas
não como alguém que cuida apenas de seus próprios
interesses, mas como um inútil; nós, cidadãos
atenienses, decidimos as questões públicas por nós
mesmos, ou pelo menos nos esforçamos por
compreendê-las claramente, na crença de que não é o
debate que é empecilho à ação, e sim o fato de não
se estar esclarecido pelo debate antes de chegar a
hora da ação”.
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso, Livro II, 40.
Trad. de Mario da Gama Kury. Brasília, DF: Editora da
Universidade de Brasília, 2001.
Considerando as teses sobre o surgimento da filosofia
na Grécia, essa passagem do famoso discurso do
legislador ateniense Péricles, no segundo ano da
Guerra do Peloponeso, apresenta elementos que nos
remetem a tese de
A) John Burnet (1863-1928), para quem a filosofia
nasce em completa ruptura com o pensamento
tradicional grego, pois teria surgido nas novas
cidades gregas na Costa da Asia Menor - a Jonia.
B) Jean-Pierre Vernant (1914-2007), que defende a
relação entre o debate público, os discursos
argumentativos na pólis grega e a elaboração da
linguagem argumentativa na filosofia.
C) Francis Cornford (1874-1943), de que há uma
continuidade entre as representações religiosas
tradicionais, transmitidas pela poesia grega e
pelos rituais, e a primeira filosofia grega, na
Jônia.
D) Rodolfo Mondolfo (1877-1976), que situa
exclusivamente no ato psiquico-intelectual da
maravilha, no sentido do espanto, a causa e O
início da filosofia como investigação sobre os
fenômenos da natureza.