“Maria de Araújo é uma personagem singular por ter sido vista como alguém tocada
pela graça divina. Calculamos que sua história foi contada a partir da combinação de traços e elementos
similares a outros episódios hagiográficos. (...) Neste sentido, distinguimos três tipos de relações que podem
ser estabelecidas a partir dos fenômenos que ocorreram de 1889: a) mística e Igreja Católica, onde Maria de
Araújo foi qualificada a partir do trinômio santa/embusteira/possessa; b) mística e medicina, a partir do qual
o debate girou em torno da possibilidade de ela ser histérica/enferma e, por fim, c) mística e política, no qual a
“trajetória de santidade” de Maria foi apagada e substituída pela do padre Cícero. Lembrando que a disputa
pela santidade dela levou quase a um cisma, com a resistência de padres e populares à decisão do bispo e de
Roma. Em todas as relações há um “transbordamento” de sentidos, no qual um espaço invade o outro. Em
outras palavras, se os fenômenos ocorridos com Maria de Araújo não podem ser entendidos fora da religião,
eles tampouco podem ser separados da ordem médica e política do final do século XIX.” (NOBRE, Edianne
dos Santos. INCÊNDIOS DA ALMA: A beata Maria de Araújo e a experiência mística no Brasil do
Oitocentos. Págs. 251-252, Tese de doutorado. UFFJ. 2014)
A respeito das questões postas na citação acima:
A) A Igreja Católica sempre aceitou as manifestações da religiosidade popular, especialmente, no Nordeste do país,
sendo que o chamado “Milagre de Juazeiro” foi imediatamente incorporado às narrativas católicas oficiais.
B) Desde o começo do XX, a exemplo do Pe. Cícero, a imagem da Beata Maria de Araújo figura como um dos
personagens centrais nas celebrações religiosas regionais, havendo inclusive uma romaria inteiramente dedicada a
ela no dia 14 de janeiro, dia de sua morte.
C) No contexto de Juazeiro do Norte e do Sertão Nordestino, os aspectos religiosos são suficientes para explicar e
compreender a figura da Beata Maria de Araújo;
D) O processo episcopal que apurou os chamados “fatos de Juazeiro” é contundente em afirmar o caráter milagroso
daquelas ocorrências, aspecto que serviu para aumentar enormemente as peregrinações para Juazeiro do Norte
durante todo o século XX.
E) As questões apresentadas pela autora, reforçam a reflexão sobre as tentativas de apagamento da imagem da Beata
Maria de Araújo entre os episódios religiosos de Juazeiro do Norte, a começar pelo próprio desaparecimento do
corpo da Beata de seu lugar de enterramento.