Em 1801, na vila de Iguape, Inácio, escravo, “desonrou”
Maria, “mulher branca, ainda que plebeia”. A moça era
muito pobre e órfã de pai, sendo que a mãe e os irmãos,
assim que souberam de sua desonra “a lançaram fora da
casa”. Ela então fez um rancho e nele passou a morar.
Vivia com os filhos com tanta pobreza que somente com
seu trabalho e alguma ajuda que o escravo lhe dava se
conseguia manter. Configurado concubinato, passaram a
ser perseguidos pela Igreja. Maria explicou perante as
autoridades eclesiásticas que “a miséria a conduziu a cair
no pecado” com o escravo, mas que esperava ter mais
amparo casando-se com ele, ainda que cativo.
SILVA, Maria B. N. da, (org.). História de São Paulo Colonial. São
Paulo: Unesp, 2008, p. 178. Adaptado.
A família no período colonial permite várias abordagens.
A observação de vivências particulares em São Paulo
colonial possibilitou constatar, nas relações familiares
afetivas, manifestações de solidariedade envolvendo
homens, mulheres e crianças. Dentre elas, destaca-se a
obtenção de liberdade pelos escravos e a preservação da
honra ou da honestidade feminina. Mas nem sempre a
solidariedade da família acompanhava o que se
considerava, então, a perda da honra, como mostra o texto
acima.
Sobre esse último tema, a partir do texto acima, é
CORRETO afirmar que, nos séculos XVIII e XIX,
a) a preocupação com a honestidade feminina se
restringia às famílias da elite colonial, e a solidariedade
da família sempre acompanhava a perda do que se
considerava a honra, acolhendo e amparando a mulher.
b) A preocupação com a honestidade feminina era
constante, e a impossibilidade de os pais cumprirem
sua obrigação poderia levar as mulheres, mesmo as
mais pobres, a se ausentarem da colônia em busca de
casamento na metrópole.
c) A preocupação com a honestidade feminina estava
vinculada à possibilidade de sustento, na medida em
que havia o temor de que a mulher destituída de
recursos recorresse ao meretrício para se manter.
d) A preocupação com a honestidade feminina era menos
importante, pois a esperança de uma vida melhor para a
mulher na colônia, por meio do casamento, sempre se
concretizava.
e) A preocupação com a honestidade feminina devia-se
principalmente à Igreja, a quem cabia a ajuda às
mulheres, da elite ou não, com base no sentimento
cristão de caridade e de ajuda ao próximo.