Uma das folhas de ontem estampou (...) o programa da
recepção presidencial em que, diante do corpo diplomático, da
mais fina sociedade do Rio de Janeiro, aqueles que deviam dar
ao país o exemplo das maneiras mais distintas e dos costumes
mais reservados elevaram o Corta-jaca à altura de uma
instituição social. Mas o Corta-jaca de que eu ouvira falar há
muito tempo, que vem a ser ele, Sr. Presidente? A mais baixa,
a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens,
a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas
recepções presidenciais o “Corta-jaca” é executado com todas
as honras da música de Wagner, e não se quer que a
consciência deste país se revolte, que as nossas faces se
enrubesçam e que a mocidade se ria!
Discurso do senador Rui Barbosa, Diário do Congresso Nacional,
8/11/1914, p. 2789.
A partir do texto, identifique a alternativa correta:
(A) A crítica permite compreender que, apesar da mudança de
regime político, as elites republicanas permaneceram
adeptas da cultura cosmopolita e europeia.
(B) O discurso elogia os esforços para compatibilizar a cultura
republicana com as práticas e tradições dos grupos
populares.
(C) A eclosão da Primeira Guerra Mundial contribuiu para a
difusão de uma política cultural de caráter nacionalista e
excludente.
(D) O programa musical adotado na recepção revelava
tendências modernistas ao conferir status de arte às
danças populares.
(E) A apresentação do maxixe Corta-jaca indicava uma
resposta para contornar a xenofobia e eugenia presentes
na cultura oficial.