Leia o texto a seguir.
O advento da filosofia, na Grécia, marca o declínio do pensamento mítico e o começo de um saber de tipo
racional. Da origem do mundo, de sua composição, de sua ordem, dos fenômenos meteorológicos, propõem
explicações livres de toda a imaginária dramática das teogonias e cosmogonias antigas. Nada existe que não
seja natureza, physis. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são perfeita-
mente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou “no começo” de maneira diferente de como
o faz ainda. O original e o primordial despojam-se de sua majestade e de seu mistério; têm a banalidade
tranquilizadora dos fenômenos familiares. Para o pensamento mítico, a experiência cotidiana se esclarecia e
adquiria sentido em relação aos atos exemplares praticados pelos deuses “na origem”. Invertem-se os termos
da comparação entre os jônios. Os acontecimentos primitivos, as forças que produziram o cosmos se conce-
bem à imagem dos fatos que se observam hoje e dependem de uma explicação análoga. Já não é o original
que ilumina e transfigura o cotidiano; é o cotidiano que torna o original inteligível, fornecendo modelos para
compreender como o mundo se formou e ordenou.
(Adaptado de: VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Tradução de: Ísis Borges B. da Fonseca. 19.ed. Rio de Janeiro: Difel,
2010. p.109-110.)
Com base nesse texto e nos conhecimentos sobre a passagem do mito à filosofia, discorra sobre os modelos
mítico e filosófico de compreensão do mundo.