(...) “Confeitaria do Custódio”. Muita gente certamente lhe
não conhecia a casa por outra designação. Um nome, o pró-
prio nome do dono, não tinha significação política ou figura-
ção histórica, ódio nem amor; nada que chamasse a atenção
dos dois regimes, e conseguintemente que pusesse em perigo
os seus pastéis de Santa Clara, menos ainda a vida do proprie-
tário e dos empregados. Por que é que não adotava esse al-
vitre? Gastava alguma coisa com a troca de uma palavra por
outra, Custódio em vez de Império, mas as revoluções trazem
sempre despesas.
(Machado de Assis. Esaú e Jacó. Obra completa, 1904.)
O fragmento, extraído do romance Esaú e Jacó, de Machado
de Assis, narra a desventura de Custódio, dono de uma con-
feitaria no Rio de Janeiro, que, às vésperas da proclamação da
República, mandou fazer uma placa com o nome “Confeitaria
do Império” e agora temia desagradar ao novo regime. A ironia
com que as dúvidas de Custódio são narradas representa o
(A) desconsolo popular com o fim da monarquia e a queda do
imperador, uma personagem política idolatrada.
(B) respaldo da sociedade com que a proclamação da Repú-
blica contou e que a transformou numa revolução social.
(C) alheamento de parte da sociedade brasileira diante do
conteúdo ideológico da mudança política.
(D) reconhecimento, pelos cidadãos brasileiros, da ampliação
dos direitos de cidadania trazidos pela República.
(E) impacto profundo da transformação política no cotidiano
da população, que imediatamente apoiou o novo regime.