Governos que se metem na vida dos outros são gover-
nos autoritários. Na história temos dois grandes exemplos:
o fascismo e o comunismo. Em nossa época existe uma outra
tentação totalitária, aparentemente mais invisível e, por isso
mesmo, talvez, mais perigosa: o "totalitarismo do bem”. A
saúde sempre foi um dos substantivos preferidos das almas e
dos governos autoritários. Quem estudar os governos autori-
tários verá que a "vida cientificamente saudável" sempre foi
uma das suas maiores paixões. E, aqui, o advérbio "cientifi-
camente" é quase vago porque o que vem primeiro é mesmo o
desejo de higienização de toda forma de vício, sujeira, enfim,
de humanidade não correta. Nosso maior pecado contempo-
râneo é não reconhecer que a humanidade do humano está
além do modo "correto" de viver: E vamos pagar caro por
isso porque um mundo só de gente "saudável" é um mundo
sem Eros.
(Luiz Felipe Pondé. Gosto que cada um sente na boca
não é da conta do governo. Folha de S.Paulo, 14.03.2012. Adaptado)
Na concepção do autor, o totalitarismo
(A) é um sistema político exclusivamente relacionado com o
fascismo e o comunismo.
(B) inexiste sob a égide de regimes politicos institucional-
mente democráticos e liberais.
(C) depende necessariamente de controles de natureza poli-
cial e repressiva dos comportamentos.
(D) mobiliza a ciência para estabelecer critérios de natureza
biopolítica sobre a vida.
(E) estabelece regras de comportamento subordinadas à au-
tonomia dos indivíduos.