Leia o soneto de Augusto dos Anjos, na coluna da esquerda, e o poema de Manuel Bandeira, na
coluna da direita.
Psicologia de um vencido
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondriaco,
Este ambiente me causa repugnância.
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme — este operário das ruínas —
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há-de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão
esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o
pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um
tango argentino.
Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre os poemas.
( ) Os dois poemas tratam do problema da finitude do corpo, corroído por doenças, utilizando um
vocabulário técnico, pouco comum à poesia.
(/ ) O soneto de Augusto dos Anjos apresenta as energias do universo, que se associam para formar
o “Eu”, e não conseguem evitar a decomposição do corpo.
(/ ) O poema de Manuel Bandeira mostra a fragilidade do corpo, encarada de forma irônica, sem o
tom grave de conspiração encontrado em Augusto dos Anjos.
(/ ) Os dois poemas evidenciam o destino implacável da destruição do homem desde que nasce,
marcado pela presença dos vermes.
(A) V-F-V-V.
(B) F-V-F-F.
(C) V-V-V-F,
(D) F-F-V-V.
(E) V-F-F-V.