Crianças Ladronas
Já por várias vezes o nosso jornal, que é sem dúvida o órgão das mais legítimas aspirações da população
baiana, tem trazido notícias sobre a atividade criminosa dos Capitães da Areia, nome pelo qual é conhecido
o grupo de meninos assaltantes e ladrões que infestam a nossa urbe.
(Jorge Amado, Capitães da Areia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 9.)
O Sem-Pernas já tinha mesmo (certo dia em que penetrara num parque de diversões armado no Passeio
Público) chegado a comprar entrada para um [carrossel], mas o guarda o expulsou do recinto porque ele
estava vestido de farrapos. Depois o bilheteiro não quis lhe devolver o bilhete da entrada, o que fez com
que o Sem-Pernas metesse as mãos na gaveta da bilheteria, que estava aberta, abafasse o troco, e tivesse
que desaparecer do Passeio Público de uma maneira muito rápida, enquanto em todo o parque se ouviam
os gritos de: "Ladráo!, ladrão!” Houve uma tremenda confusão enquanto o Sem-Pemas descia muito
calmamente a Gamboa de Cima, levando nos bolsos pelo menos cinco vezes o que tinha pago pela
entrada. Mas o Sem-Pernas preferiria, sem dúvida, ter rodado no carrossel (..).
(Idem, p. 63.)
a) O primeiro excerto é representativo do conjunto de textos jornalísticos que iniciam Capitães da Areia.
Que voz social eles expressam?
b) O narrador, no segundo trecho, adere a um ponto de vista social que caracteriza a ficção de Jorge
Amado. Que ponto de vista é esse?