Texto 5
Mais em paz, comigo mais, Diadorim foi me desinfluindo. Ao que eu ainda não tinha prazo para entender o uso,
que eu desconfiava de minha boca e da água e do copo, e que não sei em que mundo-de-lua eu entrava minhas
ideias. O Hermógenes tinha seus defeitos, mas puxava por Joca Ramiro, fiel - punia e tergava. Que, eu mais uns dias
esperasse, e ia ver o ganho do sol nascer. Que eu não entendia de amizades, no sistema de jagunços. Amigo era o
5 braço, eoaçol
Amigo? Aí foi isso que eu entendi? An, não; amigo, para mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço a
outro, e receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas, ainda que sendo com o fazer a injustiça aos demais.
Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que
um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou — amigo — é que a gente seja, mas sem pre-
40 cisar de saber o por quê é que é. Amigo meu era Diadorim; era o Fafafa, o Alaripe, Sesfrédo. Ele não quis me escutar.
Voltei da raiva.
ROSA, João Guimarães. Grande sert
: veredas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979, pp. 138-9
a) Determine os distintos conceitos de amigo que podem ser identificados no Texto 5.
b) Guimarães Rosa é, sem dúvida nenhuma, um dos mais importantes escritores da literatura brasileira. Considerado a
sua obra-prima, Grande sertão: veredas, romance publicado em 1956, representa uma profunda inovação em termos
de narrativa, sendo até hoje referência para a nossa literatura. A partir da leitura do Texto 5, destaque e comente dois
aspectos que reiteram o que foi afirmado acima.