De domingo
— Outrossim.
— O quê?
— O que o quê?
— O que você disse.
— Outrossim?
—É
— O que é que tem?
— Nada. Só achei engraçado.
— Não vejo a graça
— Você vai concordar que não é uma palavra de todos os dias.
— Ah, não é. Aliás, eu só uso domingo.
— Se bem que parece mais uma palavra de segunda-feira
— Não. Palavra de segunda-feira é “óbice”.
—“Onus”.
— “Ônus" também. “Desiderato”. “Resquício”.
— “Resquício" é de domingo.
— Não, não. Segunda. No máximo terça
— Mas “outrossim”, francamente...
— Qual o problema?
— Retira o “outrossim”.
— Não retiro. É uma ótima palavra. Aliás é uma palavra difícil
de usar. Não é qualquer um que usa “outrossim”.
VERISSIMO.L. F Comédias da vida privada. Porto Alegre: L&PM. 190 (ragmento
No texto, há uma discussão sobre o uso de algumas
palavras da língua portuguesa. Esse uso promove o(a)
O marcação temporal, evidenciada pela presença de
palavras indicativas dos dias da semana
O tom humorístico, ocasionado pela ocorrência de
palavras empregadas em contextos formais
O caracterização da identidade linguística dos
interlocutores, percebida pela recorrência de
palavras regionais.
© distanciamento entre os interlocutores, provocado
pelo emprego de palavras com significados pouco
conhecidos
O inadequação vocabular, demonstrada pela seleção
de palavras desconhecidas por parte de um dos
interlocutores do diálogo.