Leia, a seguir, um excerto de “Terrorismo Literário”, um
manifesto do escritor Ferréz.
A capoeira nao vem mais, agora reagimos com a palavra,
porque pouca coisa mudou, principalmente para nós. A
literatura marginal se faz presente para representar a
cultura de um povo composto de minorias, mas em seu
todo uma maioria.
A Literatura Marginal, sempre é bom frisar, é uma literatura
feita por minorias, sejam elas raciais ou socioeconômicas.
Literatura feita à margem dos núcleos centrais do saber e
da grande cultura nacional, isto é, de grande poder
aquisitivo. Mas alguns dizem que sua principal
característica é a linguagem, é o jeito que falamos, que
contamos a história, bom, isso fica para os estudiosos.
Cansei de ouvir: — “Mas o que cês tão fazendo é separar
a literatura, a do gueto e a do centro”. E nunca cansarei de
responder: — “O barato já tá separado ha muito tempo, foi
feito todo um mundo de teses e de estudos do lado de lá, e
do de cá mal terminamos o ensino dito básico.”
(Adaptado de Ferréz, “Terrorismo literário”, em Ferréz (Org.),
Literatura marginal: talentos da escrita periférica. Rio de Janeiro: Agir,
2005, p. 9,12,13.)
Ferréz defende sua proposta literária como uma
a) descoberta de que é preciso reagir com a palavra para
que não haja separação entre a grande cultura nacional e
a literatura feita por minorias.
b) comprovação de que, sendo as minorias de fato uma
maioria, não faz sentido distinguir duas literaturas, uma do
centro e outra da periferia.
Cc) manifestação de que a literatura marginal tem seu modo
próprio de falar e de contar histórias, já reconhecido pelos
estudiosos.
d) constatação de que é preciso reagir com a palavra e
mostrar-se nesse lugar marginal como literatura feita por
minorias que juntas formam uma maioria.