Folha — Qual é a sua maior preocupação com o DSM-5
(Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, co-
nhecido como a “bíblia da psiquiatria”)? Corremos o risco de
todos sermos considerados doentes mentais?
Allen Frances — O DSM-5 expandiu ainda mais o que
já era um sistema de diagnóstico muito vagamente definido.
Tristeza normal, como o luto, por exemplo, torna-se transtor-
no depressivo maior; comer em excesso, torna-se transtorno
da compulsão alimentar, ataques de birras de crianças po-
dem se tornar “transtorno do temperamento irregular”; o es-
quecimento na velhice passa a ser transtorno neurocognitivo
leve; e as crianças normais são diagnosticadas com déficit de
atenção e hiperatividade.
Folha — Qual a influência que as grandes farmacêuticas
exercem nessa tendência?
Allen Frances — As multinacionais farmacêuticas não
têm qualquer influência direta sobre as decisões do DSM,
mas aproveitam qualquer oportunidade para criar novas
desordens psiquiátricas. Eu acredito, por exemplo, que as
farmacêuticas sejam as responsáveis por essas falsas epi-
demias de TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperati-
vidade) e transtorno bipolar.
(Cláudia Colucci. “Gastamos muito dinheiro para tratar pessoas normais,
diz psiquiatra”. www.folha.uol.com.br, 11.09.2016.)
De acordo com o texto,
(A) o problema mais importante na área da psiquiatria é a
universalização do acesso a tratamentos médicos.
(B) o progresso científico no diagnóstico psiquiátrico pressu-
põe a autonomia absoluta de cada indivíduo.
(C) há tendências preocupantes de patologização e medica-
lização de comportamentos cotidianos.
(D) os critérios de diagnóstico da psiquiatria são diretamente
condicionados pelo mercado farmacêutico.
(E) a medicalização da vida é guiada por critérios científicos
e filosoficamente indiscutíveis.