b)
A condenação, por parte da autora, do comportamento da timidez transforma
“Vergonha de viver” em uma das mais contundentes e ácidas crônicas
escritas pela autora de Felicidade clandestina.
Não há marcas de empatia, no texto, da autora para com as pessoas as quais
ela classifica como “tímidos”, configurando, por conseguinte, um acentuado
distanciamento entre a cronista e o tema sobre o qual escreveu.
Nos três parágrafos do trecho escolhido de “Vergonha de viver” é facilmente
encontrável a intensa experiência epifânica, cuja presença desarticula o
eixo sintático-semântico da crônica, assim como o equilíbrio racionalista
da autora.
Ao citar um conhecido verso, de autoria do poeta mineiro Carlos Drummond
de Andrade, Clarice Lispector escolhe filiar-se a pressupostos estéticos
vinculados a uma tradição neoparnasiana na prosa.
Em “Vergonha de viver”, Clarice Lispector escolhe comentar sobre fatos
da vida cotidiana tomando como ponto de partida um tipo social cujo
comportamento é centrado na timidez.