FLORES DO MAIS
devagar escreva
uma primeira letra
escrava
nas imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano de boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro
olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais
CESAR, Ana Cristina. Flores do mais. In: Destino: poesia. Organização de Italo Moriconi. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2016. p.41.
Expoente da poesia marginal da década de 1970, Ana C. escreve poesia que reflete experiências do
cotidiano. Em Flores do mais, com o auxílio da gradação dos fenômenos da natureza (furacões, vendavais,
mares), a autora metaforiza
A) o esfacelamento do sujeito poético e os problemas existenciais.
B) o desejo de travar relacionamento bucólico com outros interlocutores.
C) a angústia proveniente do fazer poético comparado ao prazer de viver.
D) o trabalhoso processo de escrita e a inscrição da palavra no papel.