O fragmento a seguir foi extraído do capítulo Despedida às travessuras. Nele, narram-se as
traquinagens de Leonardo durante uma procissão que representava a via-sacra.
[...] Era a via-sacra do Bom Jesus.
Há bem pouco tempo existiam ainda em certas ruas desta cidade cruzes negras pregadas pelas paredes
de espaço em espaço.
Às quartas-feiras e em outros dias da semana saía do Bom Jesus e de outras igrejas uma espécie de
procissão composta de alguns padres conduzindo cruzes [...] Caminhavam eles em charola atrás da procissão,
interrompendo a cantoria com ditérios em voz alta, ora simplesmente engraçados, ora pouco decentes;
levavam longos fios de barbante, em cuja extremidade iam penduradas grossas bolas de cera. Se ia por ali ao
seu alcance algum infeliz, a quem os anos tivessem despido a cabeça dos cabelos, colocavam-se em distância
conveniente e, escondidos por trás de um ou de outro, arremessavam o projétil que ia bater em cheio sobre a
calva do devoto; puxavam rapidamente o barbante, e ninguém podia saber donde tinha partido o golpe. Essas
e outras cenas excitavam vozeria e gargalhadas na multidão.
Era a isto que naqueles devotos tempos se chamava correr a via-sacra.
ALMEIDA, M. A. Memórias de um Sargento de Milícias. Porto Alegre: L&PM, 2015.
Os pronomes demonstrativos, em certos contextos, além de sua função coesiva, atuam como recurso
estilístico.
Em “Era a isto que naqueles devotos tempos se chamava correr a via-sacra.”, o pronome “isto”, ao
retomar o parágrafo anterior, e associado ao adjetivo devotos, sugere, na fala do narrador, um tom
a) confessional.
b) convencional.
c) comovido.
d) depreciativo.
e) vacilante.