Os textos a seguir problematizam questões sociais. No texto |, o capitulo “Baleia, de Vidas Secas, apresenta e
representa a condição humana, tentando criar novos caminhos. No texto Il, o critico Hermenegildo Bastos diz que Baleia é
figuração dos derrotados, uma consciência ao mesmo tempo individual e coletiva que vive tanto o mundo da opressão, como o
sonho de liberdade. No texto III, “Cidade Prevista”, de Drummond, o sonho poético é de “um mundo ordenado, uma pátria sem
fronteiras”, em que todo homem carrega a responsabilidade de transformar as injustiças sociais.
Texto |
Baleia
A cachorra Baleia estava para morrer. Tinha
emagrecido, o pelo caira-lhe em vários pontos, as costelas
avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras
supuravam e sangravam, cobertas de moscas.
Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a
espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-
trapo e fez tenção de carrega-la bem para a cachorra não
sofrer muito. Ao chegar as catingueiras, modificou a pontaria
e puxou o gatilho. A carga alcançou os quartos traseiros e
inutilizou uma perna de Baleia.
Baleia pôs-se a latir e desejou morder Fabiano.
Realmente não latia: uivava baixinho, e os ulvos iam
diminuindo, tornavam-se quase imperceptíveis. Não poderia
morder Fabiano: tinha nascido perto dele, numa camarinha,
sob a cama de varas, e consumira a existência em
submissão, ladrando para juntar o gado quando o vaqueiro
batia palmas.
Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra.
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de
preas. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme.
As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num
pátio enorme, num chiqueiro enorme. Um mundo ficaria todo
cheio de preás, gordos, enormes.
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 127 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015.
(Com adaptações)
Texto I
Posfacio
Baleia é a figuração dos derrotados, mas transmite
universalidade. Uma consciência ao mesmo tempo
individual e coletiva vive o mundo da opressão, mas
também o sonho de liberdade. O sonho termina em delírio
porque nao ha lugar para ele, so pode ser realizado pela
transformacao do mundo.
Arte e liberdade, como tal se opde ao mundo da
opressão em que vivemos. O trabalho literário é, assim, ao
mesmo tempo, amaldiçoado porque lembra ao homem, pelo
revés, a sua falta de liberdade, mas também o espaço de
resistência porque reafirma o horizonte da liberdade.
À primeira coisa que nos diz uma obra de arte é
que o mundo da liberdade é possivel, e isso nos da força
para lutar contra o mundo da opressão. A arte é a antitese
da sociedade.
BASTOS. Hermenegildo. Posfácio, Inferno, Alpercata: trabalho e
liberdade em Vidas Secas. In: RAMOS, Graciliano. Vidas Secas.
Rio de Janeiro: Record, 2015. (Com adaptações)
Texto III
Cidade Prevista
lo
Irmãos, cantal esse mundo
que não verei, mas vira
um dia, dentro em mil anos
talvez mais... não tenho pressa.
Um mundo enfim ordenado,
uma pátria sem fronteiras
sem leis e regulamentos,
uma terra sem bandeiras,
sem igrejas, nem quartéis,
sem dor, sem febre, sem ouro
um jeito só de viver,
lo
Este pais não é meu
nem vosso ainda, poetas.
Mas ele sera um dia
o pais de todo homem.
ANDRADE, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. 1 ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2012.
PROPOSTA DE REDAÇÃO
Para elaborar sua produção textual, considere a leitura das obras indicadas e dos textos selecionados para compor
esta prova. Redija um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, em que defenda seu ponto de vista, de modo
coerente, acerca do tema:
O MUNDO DA LIBERDADE E POSSÍVEL, E ISSO NOS DÁ FORÇA PARA LUTAR CONTRA A OPRESSÃO E AS INJUSTIÇAS SOCIAIS.
Instruções
Dê um titulo à sua redação.
Utilize a norma padrão da lingua.
Não copie trechos dos textos apresentados na coletânea.
Não escreva a lápis.
Escreva de modo legivel.
Obedeça ao que consta no Edital nº80/2015 — REITÓRIA/UEMA a respeito da correção da Produção Textual.
Será atribuída nota zero à prova de produção textual (redação) do candidato que identificar a folha destinada à sua
produção textual; desenvolver o texto em forma de verso; desenvolver o texto sob forma não articulada verbalmente
(apenas com números, desenhos, palavras soltas); fugir a temática e a tipologia textual propostas na prova; escrever de
forma ilegível; escrever menos de quinze linhas; deixar a produção textual (redação) em branco.