Antes de alcançar a rampa para descer ao barco, anteviu a morte do Cais da Sagração - prolongamento natural do
silêncio da Praia Grande. Certo, sobreviveriam as casas, O passeio, as árvores da avenida, a muralha de cimento e
pedra rente ao mar; mas os barcos que vêm de longe não ancorariam mais naquela enseada. A praia do Caju que
continuava o cais até a praia do Jenipapeiro, junto às ruínas da Quinta da Vitória, já havia desaparecido, com seu
mercado, suas barracas, suas quitandas de peixe frito. A ponte, ligando a cidade à Ponte de São Francisco, mudara
tudo ali. E como já fazia muito tempo que não se dragava o porto, as coroas de areia, à hora da maré vazante,
davam a impressão de que terminariam de aterrá-lo dentro de pouco tempo. Assim, o cais do Pedro seria no Itaqui,
do outro lado de São Luís, enquanto o dele, Mestre Severino, continuaria sendo aquele, sob as águas do rio Anil.
Praticamente já quase não existia o Cais da Sagração.
MONTELLO, J. Cais da Sagração. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981.
Há uma dicotomia na construção do espaço narrativo de Cais da Sagração. Estabeleça relação entre o espaço
rememorado pelo Mestre Severino e a realidade por ele vivenciada.