E como manejava bem os cordéis de seus titeres,
ou ele mesmo, titere voluntário e consciente, como
entregava o braço, as pernas, a cabeça, o tronco, como
se desfazia de suas articulações e de seus reflexos
quando achava nisso conveniência. Também ele soubera
apoderar-se dessa arte, mais artifício, toda feita de
sutilezas e grosserias, de expectativa e oportunidade,
de insolência e submissão, de silêncios e rompantes,
de anulação e prepotência. Conhecia a palavra exata
para o momento preciso, a frase picante ou obscena no
ambiente adequado, o tom humilde diante do superior
útil, o grosseiro diante do inferior, o arrogante quando
o poderoso em nada o podia prejudicar. Sabia desfazer
situações equívocas, e armar intrigas das quais se saía
sempre bem, e sabia, por experiência própria, que a
fortuna se ganha com uma frase, num dado momento,
que Este momento único, irrecuperável, irreversível, exige
um estado de alerta para a sua apropriação.
RAWET,S. O aprendizado, in. Diálogo. Rio de Janeito: GRD, 1963 (fragmento)
No conto, o autor retrata criticamente a habilidade do
personagem no manejo de discursos diferentes segundo
a posição do interlocutor na sociedade. A crítica à conduta
do personagem está centrada
O naimagemdo titere ou fantoche em que o personagem
acaba por se transformar, acreditando dominar os
jogos de poder na linguagem. -
O na alusão à falta de articulações e reflexos do
personagem, dando a entender que efe não possui q
manejo dos jogos discursivos em todas as situações.
@ no comentário, feito em tom de censura pelo autor,
sobre as frases obscenas que @ personagem emite
em determinados ambientes sociais.
O nas expressões que mostram tons opostos nos
discursos empregados aleatofiamente pelo personagem
em conversas com interlocutores variados.
O no falso elogio à originalidade atribuída a esse
personagem, responsável por seu sucesso no
aprendizado das regras de linguagem da'sociedade.