O vale de Santarém é um destes lugares privilegiados pela natureza, sítios amenos e deleitosos em
que as plantas, o ar, a situação, tudo está numa harmonia suavissima e perfeita: não há ali nada de
grandioso nem sublime, mas há uma como simetria de cores, de sons, de disposição em tudo quanto se vê
e sente, que não parece senão que a paz, a saúde, o sossego do espírito e o repouso do coração devem
viver ali, reina ali um reinado de amor e benevolência. As paixões más, os pensamentos mesquinhos, os
pesares e as vilezas da vida não podem senão fugir para longe. Imagina-se por aqui o Éden que o primeiro
homem habitou com a sua inocência e com a virgindade do seu coração.
(Almeida Garret, Viagens na minha terra. São Paulo: Ateliê Editorial, 2012, p.114.)
Entramos a porta da antiga cidadela. — Que espantosa e desgraciosa confusão de entulhos, de pedras, de
montes de terra e caliçal Não há ruas, não há caminhos, é um labirinto de ruínas feias e torpes. O nosso
destino, a casa do nosso amigo é ao pé mesmo da famosa e histórica igreja de Santa Maria de Alcáçova. —
Há de custar a achar em tanta confusão.
(Idem, p. 211.)
a) Os excertos transcritos contrastam dois espaços organizadores da narrativa. Caracterize e explique o
significado desses espaços para o conjunto do relato ficcional.
b) A chegada à cidade de Santarém mostra-se decepcionante para o narrador viajante. Explique o motivo
dessa decepção, tendo em vista a expectativa do narrador no início do romance