Os trechos abaixo foram extraídos de Dom Casmurro, de Machado de Assis.
Eu, leitor amigo, aceito a teoria do meu velho Marcolini, não só pela verossimilhança, que é muita vez toda a verdade, mas
porque a minha vida se casa bem à definição. Cantei um duo ternissimo, depois um trio, depois um quatuor...
Nada se emenda bem nos livros confusos, mas tudo se pode meter nos livros omissos. Eu, quando leio algum desta outra
casta, não me aflijo nunca. O que faço, em chegando ao fim, é cerrar os olhos e evocar todas as cousas que não achei nele.
Quantas ideias finas me acodem então! Que de reflexões profundas! Os rios, as montanhas, as igrejas que não vi nas folhas lidas,
todos me aparecem agora com as suas águas, as suas árvores, os seus altares, e os generais sacam das espadas que tinham
ficado na bainha, e os clarins soltam as notas que dormiam no metal, e tudo marcha com uma alma imprevista.
E que tudo se acha fora de um livro falho, leitor amigo. Assim preencho as lacunas alheias; assim podes também preencher as
minhas.
(Machado de Assis, Dom Casmurro. Cotia: Ateliê Editorial, 2008, p. 213.)
a) Como a narrativa de Bento Santiago pode ser relacionada com a afirmação de que a verossimilhança é “muita
vez toda a verdade"?
b) Considerando essa relação, explicite o desafio que o segundo trecho propõe ao leitor.