Em 24 de janeiro de 1762, a notícia do nascimento do
príncipe da Beira, neto do rei D. José I, chegou à cidade do
Rio de Janeiro. A novidade foi recebida com grande
entusiasmo. Segundo os relatos, houve três dias de
comemorações oficiais, e estavam todos tão bem trajados
que “os nobres se distinguiam dos da plebe pelos rostos e
pelos nomes, não pela gala”. Os alfaiates fantasiaram-se
como cavaleiros teutônicos. Em outro carro, vinham os
carpinteiros, pedreiros e marceneiros, fingindo um
combate entre mouros e cristãos. Os negros executaram
uma “farsa”, imitando a coroação do rei do Congo. Faziam
parte da cerimônia um rei, um príncipe, embaixadores,
soldados e mucamas — uma delas, nua, representava a
África. .
MONTEIRO, Rodrigo B. A Gloria do príncipe. Revista Nossa História.
Ano 1, no. 5, março de 2008. Adaptado.
No século XVIII, as festas urbanas, especialmente as
realizadas na região das Minas e no Rio de Janeiro,
expressavam e reforçavam elementos culturais comuns à
sociedade europeia do Antigo Regime, tais como
a) a representação da festa para os reis de Angola feita
pelos negros, pois existia também a escravidão em
massa na sociedade portuguesa do século XVIII, assim
como no Brasil.
b) a hierarquização da sociedade colonial, com base nas
três ordens: os que oram, os que trabalham e os que
guerreiam, representados na cerimônia descrita acima.
c) a existência de uma sociedade marcada pelos critérios
de honra e de distinção, que faziam os “nobres” se
destacarem da plebe pela identificação facial e
nominal.
d) a presença de corporações de ofícios semelhantes às
europeias, cujos membros tinham uma consciência
profissional e uma tradição organizatória do trabalho
livre.
e) a presença de uma nobreza proprietária de terras, que
gozava de privilégios como a isenção de impostos e o
recebimento de lucros pela participação nos negócios
da Coroa.