Texto 1
A abolição da escravidão foi um fato central da história
brasileira. Comparável à Independência, à Proclamação da
República e à Revolução de 1930. Na verdade, nenhum
desses três últimos eventos teve semelhante impacto
transformador da vida social. A abolição destruiu uma
instituição e uma prática centenárias que moldaram a
história, a sociedade, a política e a cultura brasileiras. A
escravidão moldou a colônia por praticamente três séculos,
mas também esteve na base da construção do Estado e da
nação por 80 anos.
SALLES, Ricardo. A Abolição revisitada: entre continuidades
e rupturas. Revista de História (São Paulo). São Paulo,
n.176, 2017.
Texto 2
Dos cabeça de escravo até a militância anêmica
Minha trajetória é real, a de vocês é cênica
Cínica, cômica, quer alvoroço
Precisa dos preto fudido com grilhão no pescoço
Pois o gueto só é real se tiver roendo osso
Cadê os neguim que devia 'tá no fundo do poço?
Emicida. Inácio da Catingueira.
O texto 1, do historiador Ricardo Salles, destaca o impacto
da abolição da escravidão na sociedade brasileira. O texto
2, do músico Emicida, faz referência a Inácio da
Catingueira (1845-1878/18797), escravo cordelista do
século XIX, que lutou contra a adversidade da sociedade
escravista imperial. A poesia foi a arma de Inácio. Filho
analfabeto de pai desconhecido, sequer tinha sobrenome.
A partir dos textos acima, infere-se CORRETAMENTE
que
a) apesar da importância da abolição, o processo de
imigração estrangeira, especialmente italiana, impediu
que houvesse uma orientação destinada a integrar os
negros às novas regras de uma sociedade baseada no
trabalho assalariado.
b) os senhores foram eximidos da responsabilidade pela
manutenção e segurança dos libertos, porém a Igreja e
outras instituições civis assumiram os encargos de
preparar os ex-escravos para o novo regime de
organização da vida e do trabalho.
c) a desagregação do regime escravocrata e senhorial se
operou, no Brasil, sem assistência e garantias que
protegessem os ex-escravizados na transição para o
sistema de trabalho livre.
o avanço do capitalismo industrial no País, nas últimas
décadas do século XIX, inviabilizou a integração dos
ex-escravos na sociedade nacional, devido à
especialização agrícola desse grupo social.
no final do século XIX, um expressivo fluxo de
capitais, notadamente inglês, foi atraído para as áreas
de infraestrutura de transportes — ferrovias, bondes e
construção de estradas — o que exigiu a mao de obra
estrangeira, excluindo, assim, os ex-escravos.
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