Em 3 de setembro de 2010, a revista ISTOÉ publicou uma síntese, assinada por Paulo Lima, do livro ainda inédito Fé em
Deus e pé na tábua — Como e por que você enlouquece dirigindo no Brasil, do antropólogo Roberto DaMatta:
Nosso comportamento terrível no trânsito é resultado da nossa incapacidade de sermos uma sociedade igualitária; de
instituirmos a igualdade como um guia para a nossa conduta. Nosso trânsito reproduz valores de uma sociedade que se quer
republicana e moderna, mas ainda está atrelada a um passado aristocrático, no qual alguns podiam mais do que muitos, como
ocorre até hoje. Em casa, nós somos ensinados que somos únicos, especiais. Aprendemos que nossas vontades sempre podem
ser atendidas. É o espaço do acolhimento, do tudo é possível por meio da mamãe. Daí a pessoa chega na rua e não consegue
entender aquele espaço onde todos são juridicamente iguais. Ir para a rua, no Brasil, ainda é um ato dramático, porque significa
abandonar a teia de laços sociais onde todos se conhecem e ir para um espaço onde ninguém é de ninguém. E o trânsito é o lado
mais negativo desse mundo da rua. É doentio, desumano e vergonhoso notar que 40 mil pessoas morrem por ano no trânsito de
um país que se acredita cordial, hospitaleiro e carnavalesco. No Brasil, você se sente superior ao pedestre porque tem um carro.
Ou superior a outro motorista porque tem um carro mais moderno ou mais caro. O motorista não consegue entender que ele não é
diferente de outro motorista, do pedestre, do motorista de ônibus. Que ele não tem um salvo-conduto para transgredir as leis. No
Brasil, obedecer à lei é uma babaquice, um sintoma de inferioridade. Quem obedece é subordinado porque a hierarquia que
permeia nossas relações sociais jamais foi politizada. Isso é herança de uma sociedade aristocrática e patrimonialista, em que não
houve investimento sério no transporte coletivo e onde ainda impera o “Você sabe com quem está falando?”
(LIMA, Paulo. “Como estou dirigindo?”, ISTOÉ ed. 2130.)
Tomando como ponto de partida as opiniões de DaMatta, escreva uma carta dirigida ao Secretário de Educação do
Estado do Paraná, solicitando a inclusão, no currículo do Ensino Médio, de conteúdos voltados à educação para o
trânsito. Use as afirmações de DaMatta como argumentos para fundamentar sua sol