“Pois fiquem sabendo: se vocês me matarem por ser desse jeito que digo que sou, não prejudicarão a mim mais do que a vocês
mesmos! E que em nada me prejudicaria Meleto, ou Anito; nem seria capaz, pois não penso que é lícito um varão melhor ser
prejudicado por um inferior. Poderia sim talvez me condenar à morte, ou ao exílio, ou à atimia. Porém, se ele ou algum outro
pensa talvez que essas coisas são grandes males, eu mesmo não penso — muito pior é fazer o que ele está fazendo, ao
tencionar matar injustamente um homem. Portanto, varões atenienses, estou longe agora de falar em minha própria defesa,
como se poderia pensar; falo sim em defesa de vocês, para que não errem — votando contra mim — em relação à dádiva do
deus a vocês conferida. Porque se vocês me matarem não vão encontrar facilmente outro desse jeito, simplesmente ligado à
cidade — por ordem do deus — [...] Mas vocês poderiam talvez, quem sabe, ficar aborrecidos — como os que são despertados
de um cochilo — e, me dando um safanão e ouvidos a Anito, poderiam facilmente me matar e então continuar dormindo pelo
resto da vida, a menos que o deus aflito por vocês, lhes enviasse um outro”.
(PLATÃO. Apologia de Sócrates. Trad. André Malta. Porto Alegre: LP&M, 2016, p. 90-91.)
A partir da citação acima e de outros trechos da obra, responda por que, segundo Sócrates, longe de atuar em defesa
própria, ele atua na defesa dos atenienses?